Fique atento, o uso de lentes de contato exige uma série de cuidados
Outros erros comuns, de acordo com a especialista, é usar as lentes por mais tempo que o recomendado. Não respeitar o prazo de descarte e “esquecer” de lavar bem as mãos antes de manuseá-las são falhas corriqueiras. “O uso correto começa com a completa avaliação oftalmológica e a escolha da lente, a higienização rigorosa, com lavagem e secagem das mãos. Reforço ainda a importância de não ficar com as lentes além do prazo recomendado e usar solução multipropósito para higiene e manutenção”, lista Samantha.
Prazo de validade
As lentes de contato não são para qualquer um. Nicole Homar, oftalmologista da Clínica Oftalmed, explica que o acessório deve ser evitado por pacientes com olho seco severo, com alergias intensas ou qualquer infecção na superfície do globo ocular. “Qualquer um desses problemas compromete total ou relativamente o uso de lentes. Uma conjuntivite já restringe o uso, no momento da inflamação.”
Manter unhas muito grandes também pode atrapalhar o manejo das lentes, alerta Nicole Homar, já que podem arranhar as lentes ou mesmo a córnea do usuário. “Também não são indicadas para pessoas que trabalhem em ambientes com muito pó ou vapor químico, porque se alguma substância dessa cai no olho e pega na lente, pode causar irritações”, completa. “O fato de viver independente do óculos pode ser uma qualidade de vida, mas se as pessoas não tiverem os cuidados necessários, podem se arrepender.”
Negligência perigosa
Quem insiste em não seguir as recomendações médicas pode ter que lidar com problemas diversos, que variam de uma vermelhidão no olho a úlceras graves, que podem levar à perda ocular (leia quadro). Gilsimar Duarte, 34 anos, sabe bem o que é sofrer por conta do mau uso das lentes de contato. O servidor público usa o acessório desde 2010, mas, ainda assim, cometeu deslizes que o fizeram ter uma ceratite amebiana em ambos os olhos.
Gilsimar foi diagnosticado em outubro de 2016. “Eram lentes rígidas, então eu lavava com água da torneira e não usava os produtos adequadamente”, confessa. “Nem sempre higienizava minhas mãos antes de pegar nas lentes. Fui displicente.” Antes de receber o diagnóstico definitivo, o servidor passou dois meses usando um colírio que, apesar de ter sido indicado por um oftalmologista, não era adequado para tratar seu problema específico. “O caso foi só piorando. Meu olho já estava ficando muito vermelho, inchado. Eu não conseguia mais abri-los na claridade de jeito nenhum, qualquer lâmpada acesa me incomodava”, descreve. “Queria só ficar no meu quarto, a claridade chegava a doer a minha vista.”
Com o passar do tempo, Gilsimar conta que a mancha no olho, causada pela ceratite, aumentou de tal forma que passou a cobrir grande parte da íris, limitando seu campo de visão. “Chegou a um ponto em que eu não enxergava mais nada, só vultos”, conta. No ápice do problema, Gilsimar precisava da ajuda da mulher, a professora Estela Ribeiro Duarte, 32, para praticamente tudo, inclusive comer. Quando veio o diagnóstico, uma surpresa desagradável: o colírio indicado, além de caríssimo, só era vendido nos Estados Unidos e na Europa. “Eu me entristeci muito, achei que ia perder minha visão”, conta.
Após muitas pesquisas e orçamentos, Gilsimar e Estela encontraram um laboratório em São Paulo que poderia manipular um dos colírios prescritos pelo oftalmologista. O outro foi encomendado a uma empresa especializada em importar medicamentos para o Brasil. O valor do tratamento foi salgado: R$ 1.500 por mês. Sem plano de saúde, o paciente teve que desembolsar também os valores das consultas. “O tratamento deveria ter durado de quatro a seis meses, mas minha recuperação foi tão boa que, em três meses, o médico suspendeu os colírios”, relembra. “A gente acha que nunca vai acontecer com a gente, que é besteira, que não vai ficar cego por causa disso e acaba relaxando. Hoje, estou muito mais centrado no manuseio e na limpeza das minhas lentes e sei que é de extrema necessidade ouvir o oftalmologista.”
O protozoário Acanthamoeba, que causou a ceratite de Gilsimar, é muito comum na água da torneira, do mar e de piscinas. Por isso, lavar as lentes de contato na torneira ou no chuveiro é um perigo para os olhos
Os sete pecados das lentes
1. Não higienizar as lentes com soluções antibacterianas/antiamebianas.
2. Comprar lentes de contato pela internet, sem o acompanhamento de um oftalmologista.
3. Dormir sem tirar as lentes de contato.
4. Limpar as lentes com água da torneira ou do chuveiro.
5. Usar as lentes por mais tempo que o recomendado pelo fabricante.
6. Não higienizar o estojo ao menos a cada 30 dias.
7. Não lavar e secar bem as mãos ao manipular as lentes.
Perigo ocular
forma inadequada pode sofrer com uma
série de sintomas. Veja os mais comuns:l Vermelhidão
l Sensação de desconforto
l Edema (inchaço) da córnea
l Embaçamento
l Infecções
l Úlceras
l Perda da capacidade de regeneração
l Perda ocular
Fontes: os oftalmologistas Guilherme Rocha, do Hospital Oftalmológico de Brasília (HOB); Samantha de Albuquerque; e Nicole Homar, da Clínica Oftalmed
Todo cuidado é pouco
Olhos bem cuidados
Quem usa ou já usou lentes de contato sabe: dormir sem tirá-las é algo totalmente desaconselhável, mas que pode acontecer. O problema, segundo o oftalmologista do HOB Guilherme Rocha, é que a lente funciona como uma barreira para a nutrição da córnea. “O oxigênio vem da lágrima e do ambiente. Quando a lente está por cima, por mais que ela seja permeável a esses gases, acaba funcionando como uma barreira”, detalha. Quando a pessoa dorme, fecha os olhos — e o bloqueio aumenta ainda mais. “Você baixa a oxigenação da córnea, aumentando as chances de infecção”, alerta o médico. Essa infecção pode causar a perda da visão e, em casos gravíssimos, do próprio olho. “Uma infecção pode levar à perda da córnea e o paciente pode precisar de um transplante”, explica Guilherme Rocha.
Kléber Pinho, oftalmologista da Clínica de Olhos Dr. João Eugênio, explica que os cuidados devem ser os mesmos para lentes corretivas e coloridas. “Muitas pessoas pensam que, por serem estéticas, as lentes coloridas não precisam de acompanhamento médico, mas é um erro”, reforça. “O médico precisa avaliar o olho daquela pessoa, porque essas lentes podem causar tantos danos quanto as outras, já que também é um corpo estranho que vai interagir com o olho.” Para limpar as lentes adequadamente, a dica do profissional é sempre começar pelas mãos — de preferência, com sabão neutro —, que devem estar bem limpas.
A partir do momento em que as lentes são retiradas da embalagem original, Kléber Pinho explica que elas já estão esterilizadas. Após retirá-las (com as mãos limpas) e utilizá-las, a recomendação é acondicioná-las em um estojo próprio, também devidamente limpo, com uma solução específica para lentes de contato. “A limpeza dos estojos tem recomendações diferenciadas, mas, na prática, o paciente pode trocá-lo mensalmente ou, pelo menos, a cada três meses”, ensina. Semanalmente, a orientação do oftalmologista é limpar o estojo com água filtrada, fervida e, depois, com álcool. Após secar naturalmente, o estojo está pronto para ser usado.